quarta-feira, 25 de maio de 2011

dia 17 de Junho

Mulheres do séc. XXI (Isilda Pegado)
O papel da mulher numa sociedade sustentável
1. Quero agradecer em primeiro lugar às nossas amigas que, de uma forma verdadeiramente timoneira levam pela frente estes almoços que são para mim “um espanto” – maravilhosos … Bem-hajam por este belo trabalho em prol do bem-comum e de uma sociedade mais justa, mais verdadeira e mais feliz.
Hoje, neste almoço faz-se História (com H grande).
Um dia, estou certa, será escrito nos manuais escolares que no final do séc. XX e inicio do séc. XXI nasceram grandes movimentos cívicos para a defesa dos Direitos Humanos como o direito à vida, direito ao casamento entre um homem e uma mulher socialmente protegido, ou o direito à Liberdade de educação.
2. E não estamos sozinhos. Nos encontros internacionais verifico que por todo mundo estes “novos direitos humanos” movimentam milhares de ONG, Associações, Federações que não baixam os braços actuando das formas mais diversificadas. As mulheres do séc. XXI” são já uma realidade em movimento, em acção que faz História/Hoje.
É uma civilização nova que está a germinar no meio da putrefacção que as ultimas décadas ditaram,
Tudo isto nos faz estar na vida com alegria, ânimo audácia e coragem. Mas acima de tudo com realismo, e com o desejo grande de construir uma sociedade sustentada e sustentável.
Onde haja lugar para todos, haja esperança, haja liberdade e muita, muita solidariedade.
3. Para fazer esta abordagem parto da minha experiência de mulher, de mãe, de profissional que há 26 anos trabalha na área dos direitos humanos e da família, de pessoa empenhada em causas sociais como seja a protecção da vida humana, da maternidade e paternidade, da Família e da liberdade de educação e da subsidiariedade.
4. Na sociedade cada “eu” tem um papel, uma circunstância própria e irrepetível que necessariamente é avaliada, e que gera uma forma concreta de actuação.
Recebemos uma tradição, e um passado que são o primeiro critério para avaliação da nossa actuação. Sem esta referência ao passado não teríamos critério de avaliação e de comparação. Tudo o que fazemos e decidimos é por comparação com o que já adquirimos.
Por isso costumo dizer “tudo o que me ensinaram é muito importante”.
Porque é a partir dali que posso fazer um juízo crítico do que me é pedido hoje. Assim também deve ser a educação dos nossos filhos – “dar-lhes o que de melhor nos foi dado” – depois eles usarão a liberdade e escolherão. O vazio é inimigo da pessoa.
Esta atenção ao passado, ao que herdamos não é cega, é crítica, é activa e selectiva.
 Coisa diferente seria estar na vida como estavam as nossas avós. Ser crítico e activo em relação à tradição que nos é legada implica ser realista e por isso, temos o dever de fazer de forma diferente. Mas sempre por comparação com a herança que nos foi legada. Hoje as responsabilidades, os desafios e as circunstâncias de que partimos não são iguais aos de há 50 anos. Temos máquinas, globalização, privacidade invadida pelos media, horários de trabalho e viagens como então não existiam. Por isso, pede-se à mulher um papel adequado a estes benefícios, desafios e responsabilidades.
5. Não vivemos numa “guerra dos sexos”. Essa é uma questão dos passados anos 70 e 80.
 Hoje, mulheres e homens estão lado a lado. Cada um com o seu papel especifico que é também complementar do outro.
 A questão hoje é diferente. A questão hoje é saber estar nessa circunstância específica que me é dada. Como exerço a minha função de esposa, de mãe, de cidadã, de receptora e transmissora de afectos e amor? Basta ser? Ou há um dever de agir, um dever/ser?
Como posso no século XXI construir o que está no m² que me circunda?
6. Deixem-me dar um exemplo: - muitas vezes na minha vida profissional estou perante a ruptura de um casamento - Divórcio - (que é sempre de lamentar) com consequências pessoas e patrimoniais muito nefastas para a mulher e até para os filhos... É o património da família dela que é delapidado…, é o vencimento dela que é penhorado… etc. etc. como disse, casos onde a mulher é vítima. Mas, no percurso que me é relatado, é identificável a demissão que a mulher fez do seu papel de mulher, na relação com o marido, com a questão do património, com a atenção às questões económicas etc..
Cada um saberá adequar ao seu caso concreto. Estar ao lado de um homem não é um papel passivo. Tem tudo de activo. Conhecer, ouvir, apoiar, dizer ou não dizer tudo… Tudo, mesmo tudo o que a nossa cara-metade faz e decide é importante para nós.
Quantas vezes não ouço: “do dinheiro lá da casa não sei nada. O meu marido trata de tudo”. Mas como? Pergunto eu. O casamento não é uma comunhão de vida?
O património, que vem dos nossos pais, e que será dos meus filhos ou não, não é relevante para mim? Não se trata de fiscalizar, trata-se de estar ao lado, de ser verdadeira companhia. Trata-se de “puxar”. Dei este exemplo como poderia dar muitos outros. Nomeadamente o inverno – “da educação dos filhos sei eu” dizem algumas mães. Não quero que o meu filho seja educado como foi o pai, etc., etc. Pergunto-me: como pode uma mãe presumir que ao seu filho pode usurpar o papel do pai (educador)?
Devo confessar que depois de 18 anos de profissão verifiquei que muitas dúvidas me eram pessoalmente colocadas quanto à verdadeira natureza do casamento que a lei civil cada vez menos explicava na sua essência. Não me bastava olhar a Família como uma realidade que depende de um conjunto de contratos, direitos e obrigações. Por isso procurei saber mais. Fui para Salamanca estudar Direito Canónico em especial direito matrimonial. Confesso que muito mudou na minha vida. Aí aprendi que a essência do casamento está nesta unidade que se estabelece entre marido e mulher e por isso gera uma vida nova (a expressão popular “cara metade” é essencial). Não é pela negativa que construo a família – não pode, não deve, não faz… Mas por uma positividade que resulta do desejo do meu coração, que é vivida em plenitude e por isso dá frutos.
O papel da mulher constrói-se com esta dignidade. E, no tempo há-de gerar uma sociedade mais sustentada e sustentável.
7. Há dias li uma pequena biografia historicamente muito bem fundamentada da Nossa Rainha Santa Isabel, Isabel de Aragão, e lá estava documentado o seu papel de:
a) Exímia administradora dos seus bens, ao ponto de ser ela a accionar a cobrança de dívidas e penhoras;
b) Exímia política na condução dos destinos do País ao lado do marido e depois do filho nas contendas com os Reinos de Aragão e Castela;
c) Exímia administradora de obras que fez no Convento de Odivelas, de Coimbra, de Alcobaça, etc..
Era uma mulher da Idade Média, séc. XIII, Rainha, que poderia ter entregue esses encargos mundanos a outrém. Mas não fez.
Tudo a interessava!
8. Hoje beneficiamos, tal como as nossas filhas de uma educação Universal. por isso estamos e devemos estar, preparadas para os desafios que a vida nos apresenta.
Estar na vida com atenção e tensão é seguramente o caminho para uma maior dignidade.
É certo que, contra esta forma de estar conspira hoje um conjunto de alternativas que nos retiram da realidade oferecendo soluções fáceis mas escravizantes.
Dou como exemplo imediato as questões de maternidade e paternidade responsáveis ou de regulação da fertilidade. Têm como contraponto fácil e barato o aborto, a contracepção, as técnicas de reprodução artificial etc..
Perante questões tão relevantes da minha vida como são a constituição da família, o número de filhos que desejo ter, e que me são dados pergunto-me – que faço? O que é ser mãe, e o que é ser pai?
Coloco a questão, ou embarco na propaganda barata de revistas, televisões e outros fazedores de opinião que ofuscam a verdade e o grito que está dentro do meu coração? A minha cabeça já está tão formatada que nem ouve o coração? Qual o meu grau de responsabilidades naquelas decisões estruturantes?
Não podemos esquecer que esta «mentalidade comum» não existe só fora de nós mas está profundamente infiltrada em nós. Por isso, a indecisão em abordá-la pode construir uma posição ruinosa para nós próprios.
Para sermos honestos, a dado momento é preciso fazer frente a problemas sérios, não só no âmbito interno da própria consciência mas também no diálogo com os outros.
Só assim construímos uma sociedade sustentada e sustentável.
9. Por isso tudo depende da forma como uso a minha liberdade. Se uso essa liberdade no sentido da exigência, realismo e verdade terei um estatuto. Se ao invés a minha escolha é pelo mais fácil, politicamente correcto, etc. então, no tempo, eu crio em relação a mim mesma uma menoridade. Menoridade que é tanto mais grave quando se trata de uma pessoa rotulada por uma qualquer religião.
O ponto é mesmo o exercício com responsabilidades de todas as minhas circunstâncias de vida.
10. É fácil chegar aqui, no dizer… e no momento em que falo.
Mas a vida do dia a dia é difícil, tem obstáculos, situações - limite, desejos difíceis de controlar etc.. Não tenho solução na manga…
Mas há uma educação e formação prévia aos conflitos que muito pode ajudar.
Como disse no início, partilho convosco uma experiência na primeira pessoa, e também o que vivo, nas centenas de casos que me são confiados.
Dificuldades todos temos, se existir aquele discernimento estamos mais aptos.
11. E, a primeira constatação que faço é de que viver em tensão e com atenção é para todos. Dei o exemplo histórico de Isabel de Aragão, mas há relatos de mulheres simples do povo, que na mesma época, (Idade Média) educavam os seus filhos, geriam a casa, as propriedades e as sementeiras, aconselhavam marido e irmãos, e amaram e acarinhavam o marido e os filhos.
Hoje nas tribos de África ou na América do Sul, há muitas mulheres que vivem assim, nesta tensão e atenção ao seu papel.
Por isso repito, a proposta é Universal, é para todas.
 Constrói-se em cada acto de educação dos nossos filhos – na intervenção que tenho na escola, na atenção aos amigos deles, na disponibilidade (e até ginástica) para os interpelar com coisas simples e que criam uma cumplicidade.
Afirma-se na nossa intervenção cívica.
 Na forma como vivemos o namoro e o casamento.
Na forma como cuidaremos dos avós, dos pais ou até dos tios que estão sozinhos na velhice.
Afirma-se na relação séria que temos com o trabalho, com os colegas ou chefes.
12. Mas tudo isto parte de um pressuposto muito importante o meu eu.
Não tenho capacidade para dar se eu própria não sou. Há muitas (milhões) formas de ser mas também há formas de “não - ser”, de vidas levadas no desleixo do próprio eu, na indiferença ao que me rodeia  e na alienação perante as responsabilidades.
A vida que nos é dada, joga-se neste dilema.
O ser identifica-se no agir.
Em primeiro lugar dentro de mim, nas decisões que tomo, na forma como uso o meu tempo, o meu corpo a minha casa etc..
Hoje, há uma forma chamada “politicamente correcta” que me é vendida em cada momento e que muito facilmente me atira para um mundo que, em consciência, não quero. De aventura nada tem e tudo tem de desventura.
Não é fácil em cada instante decidir pelo correcto caminho. É até muito difícil. Mas é uma aventura viver nesta tensão.
Dá mais trabalho mas vale a pena, viver naquela aventura da Verdade e do Amor.
13. Reparemos na forma como nos são apresentadas questões tão complexas como:
a) O aborto - é o direito de mulher a dispor do seu corpo – dizem-nos. Apresentam-nos mil questões dramáticas que parecem não ter solução senão o aborto.
Mas não nos dizem que há uma vida que me ultrapassa. Que há outro caminho, uma mão amiga. Não nos falam de esperança. Eu sei da dor que ficará para o resto da vida…
b) O casamento gay - é um direito à igualdade que a todos deve ser reconhecido – Dizem-nos e até fizeram lei.
Não se diz que é uma forma de comportamento contra a natureza e que só leva à violência e à degradação pessoal e social.
 c) Barriga de aluguer – justificam-nos alegando que é o direito que qualquer mulher/homem tem a ter um filho. Até parece um bem.
Não se diz que é negar a maternidade, que é comercializar a mulher ou, que é criar mil questões a uma criança que terá de se confrontar com dúvidas para o resto da vida sobre a sua identidade. Ou as questões éticas dos milhares de embriões congelados que não têm uma solução digna e pelos quais há-de responder toda a sociedade.
d) O divórcio a pedido – “quando não dá, não há nada a fazer” – é constrangedor e até animalesco esta abordagem que tem hoje expressão na lei do divórcio.
Não se diz que há uma família pela qual é necessário exercer a responsabilidade pessoal, o sacrifício, o empenho ou até a cruz de alguns tempos que noutros, é uma enorme Letícia. Ao invés, o mundo aponta tantos sacrifícios (desporto, na beleza, no pagamento de imposto) mas não aponta a responsabilidade, a exigência, o sacrifício como pressuposto de uma vida em família.
O mundo está mais preocupado com o individualismo do que com a felicidade de cada um.
Podia continuar neste rol, mas paro por aqui. Pois o meu ponto não são as questões fracturantes mas a decisão que cada um tem de tomar perante situação que põem em causa o meu eu. Os chamados casos limites.
Aqui temos de ser heroínas.
Ninguém tem a solução fácil para os diferentes dramas que se colocam numa vida real. Mas a atenção a estas questões há-de ditar uma sociedade mais sustentada e sustentável.
14. Para terminar, apontar que a pior circunstância em que me coloco se chama solidão. Perante um drama é preciso procurar soluções, ouvir, partilhar e estar com aqueles que me podem ajudar.
A vida não se faz individualmente. Precisamos daqueles que ao longo do tempo se mostrem amigos, que temos como referência e com quem podemos contar.
Raia mesmo a falsa modéstia e presunção quando ouvimos alguém dizer “amigos não tenho”, “ninguém sabe da minha vida”, ou “nunca comentei com ninguém”. É a fragilidade total.
Ao invés, quem está numa família bem apoiado, com amigos sérios e atentos está mais preparado para enfrentar os desafios da vida e superar as dificuldades.
15. Depois da atenção ao eu, e a companhia dos amigos, eu preciso da Verdade. Não entrar facilmente em ilusões, “despir” as matérias para, perante o problema, dizer – “A verdade é esta” – a mentira conduz ao erro e à violência. E eu não quero isto. Quero mais.
Como perguntava Claudel – “viver será a finalidade da vida? E respondia “o fim não é viver… mas dar o que temos com alegria! Ali está a liberdade…”
Duas notas finais:
Há uma forma feminina de viver que não é melhor nem pior do que a masculina. Mas é diferente. Usando esta característica, com verdade, seremos seguramente mais e melhores construtoras de uma sociedade sustentada e sustentável.
E, ainda dizer que viver usando os critérios
a) Da Verdade,
b) Da companhia,
c) Da tensão e atenção ao eu, 
d) Atenta aos erros do politicamente correcto,
e) Ciente da minha natureza Universal,
f) Enriquecida por uma herança cultural.
Não faz de cada uma um ser afogado em tarefas e empenhos.
Ao invés, gera uma capacidade de discernimento nova e frutificadora.
Estamos todas no mesmo barco a que chamamos Século XXI.
Vamos a isto, mãos ao leme!
Obrigado.

1 comentário:

  1. Este blog tem muito potencial. Vai facilitar muita informação que nos diz respeito e nos ajudará a não nos sentirmos sós com as nossas convicções. Cada vez descobrimos que há mais gente a pensar como nós.

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morada do Restaurante Estufa Real