domingo, 8 de julho de 2012

7º almoço, na Família, a solução


Lisboa,6 de Julho 2012- Estufa Real, Ajuda

Palestra: “(Crise?) Na Família, a solução”
Fátima Fonseca

1. FAMÍLIA E CRISES-

Estive há poucas semanas em Mangualde, onde desde o ano passado há uma “praia”e a “praia” já estava aberta, como se podia ler em anúncios vários. Não sei se sabem, mas para quem nunca foi à praia ( e ainda os há no interior do nosso país!), mesmo vendo praias na televisão, pode-se chegar a acreditar que aquilo é mesmo uma praia, porque tem água salgada dentro de um tanque comprido, tem areia à volta e até tem um tapume gigante, pintado de azul a fingir que é o oceano e o horizonte…e a que propósito vem esta divagação ? É simples, é que tal como há gente interessada em fazer crer que aquilo é uma praia, por motivos de lucro e de negócio, também há muita gente que por razões que aqui não vamos explorar, resolveu chamar “família” a qualquer tipo de convivência  debaixo do mesmo tecto. Ora na Declaração final do recente Congresso das Famílias em Madrid, em 25, 26 e 27 Maio último, aparece a seguinte frase: “Afirmamos que as soluções duradouras para os problemas humanos, incluindo a actual crise económica, provêm das famílias(…) e não podem ser impostas por decreto burocrático ou judicial(…)”.

“As soluções provêm da família” – é este justamente o nosso tema!



Recordo aqui que esta Família não se presta a confusões: ela é a família natural, a ideal e verdadeira, fundada no casamento entre uma mulher e um homem,  é uma comunidade de pessoas ligadas pelo Amor como “fonte e estímulo incessante para acolher, respeitar e promover o Bem de cada um dos seus membros”.

É esta família – simultâneamente, âncora, fortaleza e porto de abrigo! - que dá consistência à Pessoa, que a alimenta e faz crescer como Pessoa, assim como é cada uma destas Pessoas, nascida e fortalecida na Família, que por sua vez, vai alimentar e contribuir para o Bem da Sociedade, de tal modo que podemos dizer como o prof Aquilino Polaino, que: “ Desfazendo a família, desfaz-se a sociedade inteira. A família é anterior e superior à sociedade, tal como a sociedade é anterior ao Estado. Sem pessoa não há família. Mas sem família, a pessoa quebra, não amadurece ou estrutura-se mal. Sem família não há sociedade. Sem sociedade não há Estado. O próprio futuro e sobrevivência do Estado dependem da família”.

Muitas são as vozes com autoridade e conhecimento que afirmam que esta crise económica que se instalou e tem varrido a sociedade ocidental, em especial a Europa, tem origem numa profunda crise de valores - que necessariamente afecta as famílias - e tem as suas raízes na perda de respeito pela vida humana e pela sua dignidade, visível num materialismo extremo de busca incessante de poder e  lucro crescente e a qualquer preço, sem escrúpulos, sem trabalho e sem moral. Já Gandhi falava nos “pecados sociais”…Não podemos por isso estranhar que as famílias de hoje estejam marcadas por uma acentuada diminuição da natalidade desde 1995, apresentem uma redução drástica no número de casamentos, um considerável aumento de divórcios e de uniões de facto, bem como um aumento do número de crianças nascidas em coabitação dos pais. Por detrás dos números frios das estatísticas escondem-se incontáveis histórias de dor, violência, sofrimento moral e abandono.

Mas o que é uma crise, afinal? Mais grave, profunda, complexa e duradoura que um simples conjunto de problemas, a crise é uma situação de mudança biológica, psicológica ou social que gera ruptura e perturbação na homeostase ou equilíbrio da pessoa, pela perda dos elementos estabilizadores habituais, o que obriga a um esforço acrescido para recuperar a estabilidade e equilíbrio emocional. Poderemos dizer que quanto melhor entendermos o que nos perturba, mais positiva poderá ser a busca de soluções, a mudança de atitudes e comportamentos.

Por isso sugiro que deixemos a crise económica que nos afecta e que entremos antes nas crises da família, para as compreendermos melhor e podermos chegar a soluções ao nosso alcance, que igualmente nos permitirão fazer face à crise económica ainda que indirectamente!

2. CICLO DE VIDA DA FAMÍLIA –

As crises na família surgem em geral ciclicamente, com maior ou menor gravidade, acompanhando o chamado ciclo de vida da família; assim, elas acompanham as mudanças sucessivas de etapas do ciclo de vida familiar, que começam pela fase da formação do casal, depois o nascimento do 1º filho, depois a entrada na escola deste 1º filho, a sua adolescência, depois a sua saída de casa, a fase do ninho vazio e finalmente,, a reforma de um ou dos dois e depois, o luto.

Se compreendermos como os nossos problemas são comuns a tantas outras famªs

e pudermos aprender da experiência de mudança de atitudes dos outros, através do

Aconselhamento Familiar, por ex.,ou do conselho de um bom sacerdote, ou um médico de con-

fiança, perderemos o medo, controlaremos a angústia e sairemos das crise robustecidas, mais amadurecidas pela dor e reencontraremos a alegria e a paz. Saberemos que temos recursos externos e internos ( por ex. a Inteligência Emocional ( empatia,  resiliência, generosidade, optimismo, capacidade de entreajuda e trabº em equipa,etc).

Perceberemos então, que cada etapa pode ser uma fase de grande vulnerabilidade, porque estaremos perante situações novas de perdas e teremos de reencontrar o equilíbrio perdido através da realização de tarefas, mas há soluções e apoios e não nos acontece só a nós….

Concretizemos  um pouco e talvez a música e poesia nos possam ajudar:

·         Na 1ª etapa de formação do casal, à partida parecem estar reunidas as condições para que tudo corra bem…Não sei se conhecem a música: “ Anda comigo ver os aviões...-

Um dia eu ganho a lotaria ou faço uma magia…mulher, tu sabes o quanto eu te

Amo, o quanto eu gosto de ti e que eu morra aqui, se um dia eu não te levo à

América, nem que eu leve a América a ti….se um dia eu não te levo à lua, nem

Que eu roube a lua só para ti…

”Com este amor louco, esta paixão, estas promessas, qual é a dificuldade...? Dar conta de que a realidade  é diferente do sonho; perceber que não passamos o dia a olhar um para o outro, é preciso o esforço de mil coisas menos agradáveis, há uma rotina cansativa,etc Há os feitios de cada um, as manias, os gostos e é preciso aprender a  conhecer a passar por cima de coisas sem importância, em nome do “Nós” essa nova realidade mais importante do que o eu de cada um...

·         Depois, vem o 1º filho . Lembram-se do fado de Coimbra: “O meu menino é de ouro, de ouro é o meu menino, hei-de levá-lo ao céu enquanto for pequenino

Nova alteração brusca : são as horas da mamada, o sono interrompido, os

banhos, as visitas, os conselhos das sogras e avós, o pediatra, a depressão pos-parto, etc.

O casal pode encontrar dificuldades que não sabe como ultrapassar; cansaço,

nervosismo e insegurança da mãe,  o pai a sentir-se esquecido e com um papel secundário, a mãe sem dar conta de 1001 pormenores só em função do bebé,se não tiver ajudas…é tempo de renegociar as tarefas domésticas entre o casal, reaprender novas rotinas, fazer novo orçamento familiar, ganhar alguma independência e segurança porque hão-de “sobreviver” os três, etc… Passemos por cima da saída para a escola e falemos então de

·          Adolescência que coincide com a “fase sanduíche” tão difícil: por um lado um adolescente que é um filho estranho em casa, por outro, os pais/ avós já idosos a requererem a nossa atenção, se é que não há outros filhos mais pequenos. Uma fase de desequilíbrio, novidade, afastamento entre os membros da família, dispersão,desacerto,um sufoco, que leva a que ninguém se sinta bem em casa e a mãe a fazer de “bombeiro” voluntário, sempre a tentar apagar fogos... Lembram-se ?

“ não há estrelas no céu a adorar o meu caminho, por mais amigos que tenha

Sinto-me sempre sozinho…para mim hoje é Janeiro, está um frio de rachar,

           Parece que o mundo inteiro se uniu p’ra me tramar”.

E não é só o adolescente que assim se sente, quando se fecha no quarto e atira com a porta para mostrar a sua má disposição. Também o pai e a mãe podem ter a tentação de assim se sentirem...A casa torna-se tensa, há um clima de guerra latente, perdas de paciência e é um tempo de alto risco. Mas passará e com ajudas de Aconselhamento Familiar saberemos “dar a volta” à crise...

·         Depois, saída de casa, dos filhos, a fase do “ninho vazio” – novo período muito difícil em que o casal julga poder enfim, voltar ao princípio, mas já não são exactamente as mesmas  pessoas .O tempo passou e modificou-os, bem como as circunstâncias de vida.

·         Conhecem a Música “Encosta-te a mim”?... nós já vivemos cem mil anos…

Não queiras ver quem eu não sou…tudo o que eu vi estou a partilhar contigo.

Sei que não sei às vezes entender o teu olhar, mas quero-te bem,

 encosta-te a   mim…” As crises vencem-se, mas vale a pena pedir as ajudas certas no momento certo. Recorrer a um Aconselhamento que nos dê o conselho certo, não o que nos diz o que parece a saída mais fácil : “vire as costas e parta para outro relacionamento....ainda é nova! Tem direito a ser feliz...!”

Dizia Tolstoi: “só há uma maneira de acabar com o mal, é responder-lhe com

O bem”. E ainda: “Não há senão um modo de sermos felizes: viver para os outros.”

S. João da Cruz dizia: “Onde não há amor, põe amor e tirarás amor”



3. SOLUÇÕES PRÁTICAS

Não queria desiludir quem pensou que vos traria aqui algumas soluções

para os probls financeiros que de repente nos entraram porta adentro, ou se

agravaram. Julgo que essas soluções têm de vir dos peritos, mas não posso

deixar de vos referir o exemplo de uma grega valente, Angeliki, que tal  como outros 60 mil gregos, deixou a capital, voltou à aldeia de seus pais e começou a fazer cultura do caracol…Para isso teve de contar com o apoio do marido e dos pais:

solidariedade intergeracional….pais com netos, num tempo em que porventura se sentiam no direito de descansar, capacidade de sacrifício e dedicação,

 inovação, corag em para enfrentar uma nova vida, arregaçando as mangas...



Bento XVI propõe exactamente, estas virtudes da família para superar a crise económica através de novas formas de solidariedada no mundo da empresa, do trabº e da economia.

O nosso Cardeal Patriarca, há algs semanas atrás, dizia algo de parecido: “Se a lógica do amor fosse colocada em prática, a sociedade seria diferente e teria um rosto novo!”



As perguntas que julgo vos e nos trazem aqui hoje,serão por isso:

Mas o que podemos nós fazer, nós as mulheres do século XXI? E porquê, nós, as mulheres?

Começo pela segunda: Nós podemos fazer muitas coisas diariamente, exactamente

pela nossa posição-chave na família; sem desprimor para os homens ( pai, marido, irmãos, filhos, etc) que amamos e dão cor à nossa vida e nos ajudam a santificar, são as mulheres as grandes artistas da conciliação do inconciliável, pela sua capacidade de resistência, imaginação, frescura, alegria, sacrifício, doação e dedicação, pela sua sensibilidade e intuição, pela sua inteligência emocional e coragem para enfrentar as grandes e pequenas tarefas diárias com poucos recursos…

e poderíamos citar variados exemplos de quem enfrentou grandes desafios com dedicação extraordinária e heróica: Elizabeth Leseur,  Madre Teresa de Calcutá, Gianna Beretta Molla e muito recentemente, a jovem Chiara Corbela Petrillo...

não teremos tempo, mas vale a pena lerem em casa, na Internet, estes exemplos de mulheres do nosso tempo....

Por isso vos proponho como resposta concreta à proposta do Papa Bento XVI, que desenvolvamos as virtudes da Família com base em 5 vogais:

Amor: abertura aos outros, acolhimento/serviço, alegria, agradecimento;

Empatia: escuta, entre- ajuda,esforço, entrega de si;

Iniciativa e Imaginação ao serviço do Bem de cada um dos membros da nossa família, em 1º lugar, e depois daqueles com quem nos cruzamos na vida;

Optimismo e ousadia; organização e oração ( que é nossa âncora e pára-raios);

Unidade ( ninguém fica esquecido, um por todos, todos por um), unidade de vida: sou o que penso e penso o que sou, o tema da minha oração projecta-se na minha vida…e por isso uno e desato nós e perdoo...Don’t let the sun go down upon your wrath...- S. Paulo- “não deixes que o sol se ponha sobre a tua ira!”



Mas se as 5 vogais vos parecerem uma sugestão ainda difícil de reter e cumprir, podemos simplificar:

Tudo se pode resumir a transformar a nossa vida num compasso binário, dois movimentos apenas : inspiro e expiro- recebo o Amor de Deus e levo-o a todos os outros. Caio e levanto-me. Experimentem!

S Josemaria  Escrivá dizia “ Que curta é uma vida para amar!”...é esta a nossa missão.

Podemos olhar as diferentes crises sem esperança, porque as nossas forças humanas são realmente muito frágeis , mas  apenas na Fé em Cristo encontraremos força e luz.

Disse o Papa Bento XVI na visita à Alemanha que:

“Não é que quem acredita em Jesus tenha a sua vida constantemente cheia de sol, como se fosse possível poupar-lhe sofrimentos e dificuldades; mas há sempre uma luz clara que lhe indica o caminho, o caminho que conduz à vida em abundância. Os olhos de quem acredita em Cristo vislumbram uma luz mesmo na noite mais escura e nela vêem já o fulgor de um novo dia. A luz não está sozinha e à nossa volta acendem-se outras luzes”. E hoje estamos aqui também a acender essas luzinhas...

Por isso há algumas músicas que me inspiram particularmente e que certamente conhecem:

“Deixa a luz do céu entrar, deixa a luz do céu entrar, abre bem as portas do teu coração e deixa a luz do céu entrar!”.

Termino, recordando o sacerdote poeta Padre Tolentino, nas suas palavras:

“Precisamos em qualquer idade, mas sobretudo à medida que avançamos na idade, de reganhar espiritualmente, um coração de criança, voltar a ser pequenino no espanto e confiança com que vivemos os caminhos de Deus”.

Pensei por isso, convidar-vos a cantar, mas mudei de ideias e peço-vos que escutem o poema maravilhoso do Cardeal Newman em vésperas da sua conversão ao catolicismo:

...Que importa se é tão longe para mim,

A praia onde tenho de chegar,

Se sobre mim levar constantemente,

Poisada a clara Luz do teu olhar...



Luz terna e suave, no meio da noite,

Leva-me mais longe, leva-me mais longe,

Não tenho aqui morada permanente....

Leva-me mais longe...

(...)

Se Tu me dás a Mão não terei medo

Meus passos serão firmes no andar...

(...)

Leva-me mais longe...

(...)

(passar CD das Equipas, versão do Peu Madureira, faixa 5)



Obrigada!



FF                                                      

Estufa Real, Lisboa, 6 Julho 2012

                                                                                                           


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